É uma ideia poderosa e desoladora, saber que todo o castelo de um homem um dia terá desabado.
Todos nós temos nosso canto, nosso refúgio, nosso mundo particular, nosso castelo, enfim.
Não precisa ser nada demais: Nossos livros, escritos, miniaturas, quadros na parede, discos e arquivos eletrônicos com uma seleção de décadas de gosto pessoal.
É nesse canto que realmente vivemos. Passeio verdadeiro é o passeio mental.
Ilude-se aquele que pensa que para passear precisa deslocar todo o organismo por aí.
NÃO! Minhas maiores viagens foram cósmicas e portentosas, mundos e mundos, tanto galáticos quanto medievais, tanto no futuro quanto no passado, mas mentais. Poderosamente mentais. Isso é viagem!
Quando um dia partirmos na viagem derradeira, todo aquele castelo de cultura adquirida empilhada não vai mais ser tão querido por ninguém quanto foi por nós. A tendência é desmoronar...
O que podemos fazer? Aquele universo coletado de uma vida de experiências reside apenas nas camadas bioelétricas de nossos neurônios, na nossa mente. É parte de nossa consciência, que vai se dissolver junto com o restante dos átomos de nosso corpo.
Me parece um desperdício que aquilo tudo só tenha servido para meu deleite, temporariamente apenas. É SÓ ISSO? E MEU EGO?
Eu sei que posso deixar filhos, árvores e escritos, com vislumbres de meu mundo, MAS EU MESMO JÁ ERA!
Me recuso a inventar soluções metafísicas infantis de continuidade somente para "ir feliz", imaginando um falso propósito!
Ainda assim, saboreio um imenso e gostoso mistééééééééééério.... e concluo que somente por ter existido, já valeu a pena, obviamente, pois fui (estou sendo) a probabilidade insanamente improvável realizada. E TENHO CONSCIÊNCIA DISSO!
Aliás, todos nós somos afortunados por isso.